sábado, 12 de março de 2011

Gaia - Capítulo 8

Capítulo 8

Draco e Danaor se esgueiravam pelos corredores da mansão destruída dos Bernstein. A antes imponente construção cinzenta de granito-pena agora não passava de um monte de escombros. Somente o chão permanecia intacto em algumas partes, o resto todo havia sido destruído. A grande nave inimiga havia se afastado ainda mais, o barulho do motor agora não passava de um ruído que ocupava o ar. Ainda podia ser ouvido claramente, como Anette, Bertha e Mímin ouviram pouco antes do ataque, mas estava longe do incômodo que era assim que Draco chegou à superfície. A lua brilhava no céu, ela era tão grande e parecia tão próxima que passava a impressão de estar caindo em direção ao solo. A tênue luz prateada vinda dela iluminava de forma precária o ambiente destruído, e Draco, agora tinha a impressão que os bálmares estavam prestes a se retirar do local, e que por isso deveria se apressar e achar Anette, Bertha, Mímin e o caseiro, ou o que sobrara deles depois do ataque. - Esses eram todos que estavam na mansão nessa noite.
“A nave maior estava usando aquela iluminação gigantesca para ajudar os soldados na ronda pelos escombros da mansão, se a nave se afastou e apagou a luz, então o trabalho deles aqui deve ter acabado. Danaor me disse que viu uma nave menor, os soldados devem ter vindo ao chão usando naves menores e devem retornar para a nave-mãe usando elas.”

Correndo de um esconderijo a outro, Draco e Danaor passavam rápidos pelos metros que os separavam do local onde ficava a cozinha. Sempre que passavam por onde era a entrada de algum cômodo, Danaor olhava para dentro, sua trança balançando pela corrida, e sentia pena quando olhava os montes de granito-pena por cima de móveis destruídos, tecidos rasgados, e todo aquele patrimônio dos bernstein acabado, já que eles não eram uma família das mais ricas, eram uma família nobre relativamente nova.

- Jovem mestre? - falou Danaor enquanto ele e Draco se escondiam atrás de um pedaço caído do teto.
- O que?
- Por que mesmo a casa inteira tendo desabado, os corredores ainda estão quase intactos, e nem estão tão cheios de escombros assim?
- Quando meu pai construiu essa casa, o rei enviou a arquimaga Silphe para encantar o lugar. Mesmo que tudo desmoronasse, os ventos iriam segurar os escombros e impedir que eles caíssem por cima dos corredores. Era uma forma de garantir que as pessoas sobrevivessem em caso de ataque, já que os cômodos seriam atacados primeiro, e manter as pessoas lá dentro para serem protegidas seria uma burrice.
- Entendo... eu tenho outra pergunta.
- O que foi?
Draco saiu de trás do teto caído e correu até o próximo esconderijo, Danaor seguiu logo atrás.
- Mas se havia uma magia de proteção, porque alguns pedaços do teto e do chão do andar de cima caíram no corredor?
- A magia era velha. Meu pai construiu essa mansão há mais de 20 anos, e a arquimaga nunca veio encantar o local de novo.
- Entendo... Jovem meste?
- De novo? Por que não pergunta logo tudo de vez?
- É que essa dúvida só me surgiu agora.
- Tá, pode dizer.
- Por que atacamos aquele grupo de soldados bálmares lá atrás? Não teria sido melhor arrancar informações deles?
- Hum... Não tinha parado para pensar nisso... Mas eu acho que eles não iam nos falar nada. Quando encontrei o outro grupo, eles não queriam nem saber de negociar ou conversar, atacaram e lutaram até o final. Acho que já haviam encontrado o que estavam procurando.
- Entendo...
- Danaor?
- Sim?
- Não precisa se preocupar, nós vamos encontrar Mímin.
- Ah.. eu, eu não estava pensando nisso!
- Não se preocupe, não vou contar nada a ninguém. Eu sei que você tem uma queda por ela. Sempre que você estava na mansão ficava a olhando de um jeito idiota e ia na cozinha muitas vezes.
Danaor ficou calado e olhou para o lado. Por mais que não quisesse admitir, ele sentia alguma coisa por Mímin. Um calor no peito, uma sensação de agonia quando estava perto dela, queria sempre ficar conversando com ela, mas era difícil, graças à aversão que ela tinha à pessoas.

Os dois finalmente chegaram. Se esconderam atrás da antiga mesa que ficava na cozinha, que agora ficava no final do corredor, virada de lado, depois de arremessada por alguma explosão no ataque bálmare. Lentamente Draco e Danaor colocaram um pedaço da cabeça para fora pelo lado da mesa, observando tudo.
Um grupo de quatro soldados bálmares usando a tradicional armadura plástica e o fuzil de metal estavam lá dentro. Um outro guerreiro bálmare, que usava a mesma armadura que eles, mas com uma listra azul nos braços e no peito estava sentado em uma das cadeiras da cozinha - que agora estava acabada e passava a impressão que ia se quebrar a qualquer momento - Ele estava sem elmo, e seu cabelo preto cortado baixo dos lados e um pouco maior em cima contrastava com sua pele branca feito leite. Ele possuía um aparelho retangular que cabia na palma da mão, no qual tocava a tela e sons estranhos eram emitidos.

Um gemido chamou a atenção de Draco. Ele virou o rosto para onde os outros quatro soldados estavam. O coração de draco gelou. Deitado aos pés deles estava um homem de roupa em frangalhos, de cabelo preto curto e sangrando na cabeça. Os soldados pisavam em suas mãos, braços e pernas com força enquanto riam da situação. Draco reconheceu o caseiro. Ele ia interferir, mas Danaor o segurou no último momento.
- Jovem mestre, não! - exclamou Danaor sussurrando - Aquele homem que está sentado é um capitão, eu já os vi na guerra. Aquilo que ele está segurando na mão serve para comunicação, espere que ele guarde aquilo para agir, senão seremos um alvo fácil para a nave maior mesmo que derrotemos todos. Ele provavelmente está esperando os dois grupos que foram mortos por você e eu chegarem aqui.
Draco sentia raiva. Uma sensação de fúria tomava conta de seu corpo. Ele sentia uma vontade quase incontrolável de matar todos aqueles bálmares, mas sabia que Danaor estava certo. Uma das coisas que Alexander mais alertava Draco era a sua própria falta de auto-controle. E essa falta quase o matara mais cedo.
A atenção de Draco se voltou de novo para os soldados que judiavam do caseiro caído. Haviam disparado um tiro na mão do homem, que agora era uma massa de ossos separada em duas partes por um buraco. A raiva aumentou. Draco olhou para o próprio peito. Se não fosse por Danaor ele mesmo teria vários buracos daqueles pelo corpo e estaria morto. Um outro soldado disparou na perna do caseiro. Eles continuaram a disparar contra o homem indefeso como se fosse um jogo de quem acerta o melhor lugar sem matar. O homem gritava de dor e os soldados riam. Dispararam contra o joelho, que se partiu e pedaços do osso voaram. Lágrimas de raiva se juntaram nos olhos de Draco. Ele virou o rosto para o capitão, que estava indiferente a tudo. Dispararam contra a coxa, depois o braço, os pés, o outro joelho. O caseiro estava mais morto que vivo. Os soldados riam. A raiva de Draco estava mais alta que nunca agora, mas estrondo o fez esquecer momentaneamente o que estava acontecendo. Um estrondo que sacudiu o lugar e deixou todos os soldados espantados olhando para os lados tentando entender o que acontecera.
“É agora a hora de atacar!”
Pensou Draco.

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