quinta-feira, 10 de março de 2011

Gaia - Capítulo 6

Capítulo 6

O tremor e o barulho haviam feito o coração de Draco disparar. Ele havia corrido para a jazida de minério de Tenebra, mas em seu desespero havia parado completamente de pensar. Ele apenas se importava em chegar o mais rápido possível onde o Tenebrarium estava, e agora uma sensação de que isso iria lhe custar caro o dominava. Draco havia esquecido completamente da forma como o Tenebrarium reagia a grandes energias e deslocamento de grandes massas através de planos. E pela forma que o Tenebrarium havia reagido minutos mais cedo, tudo indicava que alguma coisa grande, muito grande havia atravessado a fina, mas potente, cortina que protegia Assuria da invasão de inimigos de outro plano.

Parado de frente para o Tenebrarium, Draco tentava adivinhar o que estava acontecendo. Quem tentaria invadir Assuria, e por que justamente na propriedade de Alexander Von Bernstein, um nobre que sequer estava em casa? Três possibilidades se formaram em sua cabeça. A primeira, quem quer que estivesse invadindo pretendia atacar Alexander, mas não sabia que ele estaria indo para a capital, já que fora algo decidido de última hora. A segunda, alguém planejava atacar a mansão dos Bernstein para roubar o minério de Tenebra, o que Draco achava muito improvável. Somente os nobres sabiam que as armas dos líderes das famílias eram feitas de um minério raro que ficava dentro de suas propriedades, e mesmo assim, não tinha como saberem onde a jazida ficava escondida. A terceira possibilidade era que estavam atacando para fazer reféns, já que Alexander tinha desconfianças sobre a convocação que recebera do rei, e essa era a mais amedrontadora de todas as possibilidades. Além de Draco, que era filho de Alexander, o general Dragão Branco, Anette também estava em casa, e ela era filha de um general assim como ele. O general cavalo dos Céus, Marmo.

Um outro tremor fez Draco sair de seu transe. Ele virou e se pôs a correr escada a cima. O caminho era escuro e traiçoeiro, os degraus pareciam surgir na frente de seus pés, fazendo-o cair várias vezes. A irritação começou a crescer dentro de Draco. Ele cerrou os dentes e teve vontade de socar a parede próxima. Ele tinha sido tão estúpido em sua pressa que sequer havia trazido consigo alguma coisa que pudesse iluminar o caminho. A natureza da magia só permitia que pequenos encantamentos fossem executados sem um intermediário que invocasse a magia, e cada tipo de intermediário causavam uma reação única.

Finalmente, quase dez minutos depois de ter começado a subir as escadas, de ter sofrido várias quedas e de ter sentido vários tremores, uma luz forte despontou depois da última curva. Os olhos de Draco doeram, e instintivamente ele levou a mão livre aos olhos - a outra carregava a espada dentro da bainha negra - Devagar ele tirou a mão da frente. A luz vinha de cima, de alguma coisa grande que flutuava muito acima do solo, mas que protegida pelo manto da noite poderia passar despercebida se não fosse pelo barulho que produzia. Um som estranho, barulhento, irritante, algo rasgava o ar. Alexander já havia lhe explicado que barulho era aquele, era o barulho de um motor. O teto da mansão não existia mais, e as paredes haviam desmoronado, no meio do salão de treinamento haviam apenas escombros e quatro pessoas vestindo roupas estranhas e carregando um tipo incomum de cilindro de metal.
- Quem são vocês, e o que querem aqui? - disse Draco alto, se fazendo ouvir em meio ao barulho do motor.
As pessoas o notaram e se viraram para ele, apontando os cilindros em sua direção. As engrenagens em sua mente começaram a funcionar de novo. A armadura que os homens usavam era feita de um material plástico, e cobria completamente seu corpo, as partes das articulações eram compostas por algum tecido maleável, e enxergavam através de uma viseira escura. Aquela era uma roupa de combate bálmare. Os cilindros de metal eram armas capazes de atirar projetéis ou energia.
Uma voz mecânica e abafada saiu de dentro do capacete.
- Não interessa quem somos, mas sim quem é você. É melhor responder logo se não quiser acabar como a garota de cabelo preso.
“Garota de cabelo preso?!”
Esse pensamento inundou Draco. Tanto Anette quanto Mímin e Bertha estavam usando cabelo preso. Se esse era um blefe, era muito mal-pensado.
- Garota de cabelo preso? É impressão minha ou você não passa de um idiota?
- O que?? - O soldado deu um passo para frente, claramente irritado. - Você é que é um idiota! E um idiota que vai morrer, já que não tem utilidade!
Ele elevou a arma até a altura do visor, fazendo mira. Draco cerrou os olhos, esperando o momento certo. Sem hesitar o soldado puxou o gatilho. Um projétil cinza saiu do cano da arma, e voou na direção de Draco. Nesse momento seus olhos adquiriram um brilho vermelho e ele desembainhou a espada, golpeando o projétil usando a largura da lâmina antes que ele acertasse sua cabeça, rebatendo-o para cima.
Os soldados ficaram surpresos e deram um passo para trás, como se tivessem medo do que viram.
- O-o que? Como você fez isso? ABRAM FOGO!
Todos os soldados ergueram suas armas e dispararam contra Draco. Ele avançou na direção do grupo, indo de encontro aos projéteis.
- Kilpi! - ele gritou mais rápido que os projéteis, e numa velocidade descomunal balançou a espada na direção do grupo inimigo, como um leque. Um brilho esverdeado permaneceu pairando no ar por onde a espada havia passado. Os projéteis foram atraídos para o brilho, e ao tocarem nele caíram como se tivessem perdido toda a força, enquanto Draco continuava avançando. Ele não deu chance dos soldados dispararem de novo. Quando perceberam o que havia acontecido, Draco já estava na frente deles. Um dos soldados tentou golpeá-lo usando a arma, mas Draco usou a espada para cortá-lo na articulação do cotovelo, um dos pontos fracos da roupa de combate onde havia apenas tecido maleável. O sangue voou, sujando o colete verde de Draco, a lâmina da espada e sua mão. O antebraço do soldado foi separado de seu braço, e ele caiu no chão, gritando de dor através do elmo.
- Ele é mesmo um monstro, não parem de atirar!
Draco virou o rosto para o soldado que havia gritado, o líder do grupo que havia atirado primeiro. O brilho vermelho continuava em seus olhos. Uma nova saraivada de balas foi disparada, Draco era rápido, mas a essa distância não tinha como invocar alguma magia. A única alternativa foi rebater um dos projéteis usando a espada, e sofrer os outros dois. Um deles o atingiu no peito direito, e o outro, na coxa esquerda.
“Merda, agora minha velocidade vai diminuir!”
Os soldados puxaram o gatilho novamente. Draco sabia que se não fizesse nada seria atingido.
Seus olhos brilharam mais fortes, e numa explosão de força avançou contra outros dois soldados, golpeando um com uma estocada no pescoço, e puxando a espada para o lado cortou o pescoço do que estava ao lado, ao mesmo tempo que era atingido por mais três projéteis. Os corpos dos dois tombaram para o lado, e Draco caiu de joelhos, se apoiando na espada para não ir ao chão. Draco arfava, havia perdido bastante sangue com os ferimentos. Um dos tiros havia atingido o braço esquerdo, que agora segurava de leve a bainha, sem forças. Sua visão começou a embaçar, e o brilho vermelho em seus olhos desapareceu, restando apenas o castanho visto normalmente.
- Hehehe, parece que agora é o seu fim, seu merdinha. É melhor começar a orar por seus deuses, demônios, ou seja lá o que lhe governe, porque em breve você vai estar perto deles.
O soldado se aproximou e encostou o cano da arma na testa de Draco. O jovem não conseguia se mexer. Lentamente o dedo foi puxando o gatilho, criando expectativa sobre quando a arma ia disparar.
- Pora. - sussurrou Draco, apontando a espada contra o soldado num último esforço.
Uma luz branca saiu da lâmina e perfurou o elmo do inimigo. Miolos e sangue voaram, e o corpo sem vida caiu para trás. Draco caiu no chão, sem forças. Ele usou mais uma vez a espada para se levantar, e arrastando os pés tentou avaliar a situação da mansão. A luz que vinha de cima não iluminava somente o local onde ele estava, ela iluminava toda a mansão e a área ao redor. Provavelmente não estavam de olho no que estava acontecendo com ele, a luz era apenas para ajudar os soldados a verem na noite. Draco torceu para que fosse isso, que ninguém o encontrasse, pois ele não tinha mais forças, e soltando as amarras em sua mente que ainda faziam sua força de vontade manter seu corpo de pé, ele desabou para trás, desmaiando e deixando que o acaso decidisse seu destino.

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2 comentários:

  1. Rapaz, tu tá bom de prosa. Posso sugerir sinônimos pro protagonista?

    É um pouco duro ler "Draco fez isso, Draco fez aquilo, Draco sangrou, Draco puxou o gatilho".

    Mande uns "o rapaz com a espada" "o garoto da gunblade", "o guerreiro ferido"... Pra colorir sua narrativa.

    Você me pediu mais trejeitos pra identificar os personagens, te recomendo usar figuras de linguagem pra evitar repetição de nomes.

    Uma mão lava a outra, certo?

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  2. Opa, valeu, vou me policiar em relação a isso =D

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