sexta-feira, 25 de março de 2011

Gaia - Capítulo 11

Draco estava sentado em uma das cadeira no interior da nave. Ansioso, batia a ponta do pé direito no chão enquanto observava através do pára-brisa a aproximação com a nave mãe. Poucos segundos pareciam vários minutos naquele momento. Suava frio pensando em como iria agir dentro da nave-mãe bálmare, que fora chamada de “Gnios” pela voz que ouvira alguns segundos atrás. Como uma armação do destino, a voz começou a falar assim que Draco pensara nela.
— Se aproximando do cruzador de dimensões Gnios, iniciando protocolo de atracamento.
A nave menor foi se aproximando pela lateral do cruzador. Ela não parecia ter nem um centésimo do tamanho dele, que imponente, recebia tiros e batalhava com o navio de guerra assuriano do outro lado do casco. Explosões podiam ser ouvidas, e barulho de tiros disparados sem parar entravam na nave menor através da abertura na parte de trás, onde antes havia uma porta, que fora destruída. Ao longe, um portão se levantava, pouco a pouco ia revelando um hangar onde várias outras naves pequenas estavam estacionadas. Draco engoliu em seco e torceu para que ninguém o visse. A nave adentrou o hangar flutuando levemente, e num baque pousou suas três pernas sustentadas por esquis num piso branco e liso. Algumas máquinas usadas para manutenção e abastecimento também estavam ali perto.
“Talvez eu possa usar essas máquinas espalhadas pelo hangar para me esconder e andar por aqui sem ser visto.”
Draco correu para a parte de trás da nave e colocou a cabeça para fora. A primeira coisa que viu foi um grupo de três soldados parados próximos a outra nave, que ajustavam algo em suas armas. Um deles olhou para a nave de Draco e deu uma pequena cotovelada em outro enquanto falava alguma coisa. O jovem escondeu a cabeça de novo e levou a mão ao cabo da espada, esperando o momento certo para retalhar os bálmares. Ele podia ouvir os passos dos soldados. Não havia nenhum outro barulho no hangar, a não ser os tiros e explosões lá fora. Mais uma vez, Draco engoliu. O barulho dos passos se tornava cada vez mais alto e próximo. O som de metal batendo um no outro denunciou que haviam engatilhado as armas. O portão do hangar começou a se fechar, emitindo um zumbido mecânico enquanto se movimentava. Não tinha mais jeito, era agora ou agora, pensou.

O primeiro soldado despontou na entrada da nave. Como uma lança mágica, um feixe de luz branca atravessou a viseira do elmo bálmare e saiu na parte de trás da cabeça. Os outros dois olharam o companheiro cair no chão sem entenderem, mas quando viram o sangue e dejetos espalhados, contrastando o branco do piso com um vemelho vivo, correram para a frente da porta e atiraram sem sequer mirar, apenas puxaram o gatilho e o mativeram assim, fazendo dezenas de projéteis serem disparados. Quando finalmente pararam, aguçaram a visão, tentando entender o que havia lá dentro.

Uma linha verde pairava em pleno ar. Na ponta dessa linha, estava uma espada, segurada por um homem, e caídos aos pés desse homem, logo abaixo da área verde, estavam todos os projéteis disparados.
Sem dar chance para os bálmares agirem de novo, o homem correu em direção aos inimigos. A linha verde desapareceu assim que ele se movimentou e seus olhos adquiriram um brilho vermelho. Ele saltou por cima dos soldados com a espada abaixada. Ela tocou a cabeça de um dos soldados, e nesse momento, o homem falou, praticamente sussurrou:
— Leikkaus.
A espada atravessou a cabeça do bálmare como faca cortando manteiga. Ele desabou no mesmo momento. O último dos soldados tentou se virar, mas sequer conseguiu enxergar o inimigo quando ouviu de novo ele falar:
— Leikkaus.
A sensação de algo quente atravessando seu tronco e a dor de ter partes do seus órgãos separadas tomaram conta dele.Ele não chegou a entender o que havia acontecido, perdeu os sentidos alguns momentos antes do golpe ser finalizado e separar seu corpo em dois através de um corte na diagonal do tronco.

O sangue pingava da lâmina para o chão, Draco, de pé, contemplava os corpos mortos dos três soldados que enfrentara há pouco. Pretendia andar pela nave sem ser notado, e enfrentar soldados bálmares antes mesmo de pôr os pés no cruzador inimigo não era um começo nada bom. Fez um movimento rápido balançando a espada. O sangue todo espirrou como um jato no chão, deixando uma linha vermelha quase perfeita. Depois levou a lâmina para perto dos próprios olhos e a observou.
— Espero que essa lâmina seja mesmo boa... Porque se for de baixa qualidade, quando eu voltar para casa depois dela ter bebido tanto sangue sem ser limpa, é capaz de enferrujar.
A lembrança que sua casa havia sido destruída veio à mente.
— Heh... Enferrujada quando eu voltar para casa? Mas nem casa eu tenho mais, vai ter que ser reconstruída...

Ele olhou em volta. Tinha certeza que não havia mais ninguém no local. Se houvesse, eles já teriam aparecido por causa do barulho dos tiros. Ao longe, no final do hangar, viu duas portas de metal cinza, uma ao lado da outra. A primeira, era menor, tinha o tamanho que sugeria ser para a passagem de pessoas. A outra, estava mais para um portão, tinha três metros de altura e quatro de largura.
“Esse portão deve levar a algum compartimento de carga.”
Se esgueirando, correndo de trás de uma máquina a outra, Draco percorreu a distância entre a nave que o trouxera e a porta menor. De trás da última máquina(uma máquina de abastecimento de combustível, que era um cilindro grande, deitado, movido por rodas e com uma mangueira na ponta), ele ficou observando a porta. Havia um painel ao lado dela, onde uma fenda e um teclado com vários números estavam debaixo de um monitor azul. Correu em direção a esse painel. Algo estava escrito no monitor no idioma dos bálmares.
— Merda. - praguejou Draco.
Instintivamente ele olhou em volta, procurando por algum inimigo, mesmo sabendo que não havia mais ninguém ali. Ele precisava passar por aquela porta. Foi então que notou algo: O barulho de explosões cessara. O que estaria acontecendo?
“Talvez Danaor tenha conseguido entrar em contato com o navio de guerra e ele tenha parado de atirar. Deve ser isso. Então preciso ser rápido e sair daqui.”
O barulho de um motor ligado veio de trás do portão maior. Vozes vinham de lá, e alguém gritou no idioma básico:
— Operador, estamos prontos para embarcar nas naves de abordagem!
— Ah não! Merda de novo!
Sem pensar duas vezes, Draco correu de volta para a nave de onde viera. Ele escutou o portão atrás de si começar a se abrir, o barulho do metal encaixando um no outro enquanto arrastava a carcaça acinzentada. Assim que chegou ao local, a primeira coisa que viu foram os corpos dos soldados mortos.
— Ah, puta merda. Como é que eu vou fazer para esconder esses corpos e todo esse sangue?
Ele olhou para o portão que subia pouco a pouco e já estava na altura da sua cintura.
— Droga...
Uma explosão e um tremor fizeram o portão parar. As vozes por trás dele começaram de novo, e o homem que gritara antes, fez o mesmo segundos depois da explosão:
— Os assurianos começaram a atacar de novo, a ponte de comando enviou uma mensagem, vamos para a ala 5, guerreiros assurianos invadiram por lá!
“Que sorte!”
Draco voltou o olhar para os corpos e teve uma ideia. Ele retirou a armadura plástica completa do soldado que havia sido morto com um corte na cabeça e o elmo do soldado que fora partido ao meio. Retirou a própria roupa e vestiu as peças retiradas dos inimigos. Vestiu o soldado morto com o corte com suas próprias roupas. Pegou o fuzil de um deles e disparou várias vezes contra o soldado morto que agora vestia suas roupas. Depois esperou. O portão ainda estava aberto até a altura da cintura, e o barulho dos tiros iria atrair alguém. Como se respondesse a esse pensamento de Draco, o portão começou a subir de novo, e um grupo de cinco homens, sendo um deles um capitão e outro usava uma armadura diferente, com um motor nas costas, entraram, procurando de onde haviam vindo os tiros. Assim que avistaram os corpos se dirigiram para onde o jovem nobre estava. Eles olharam a cena, e depois viraram para a entrada da nave que trouxera Draco. O capitão parecia ter compreendido tudo quando começou a falar.
— Droga... Esse assuriano deve ter matado todos os soldados que viriam nessa nave. Você tem sorte de ter conseguido mata-lo - disse o capitão para Draco.
— Sim, ele deu bastante trabalho, se movia rápido demais e acabou com os outros dois como se não fosse nada.
O capitão virou a cabeça para o corpo que vestia as roupas assurianas, e que tinha o rosto virado para o chão, para que ninguém o reconhecesse. Voltou o olhar novamente para o nobre, e apontou para a espada que ele carregava.
— Ele usou essa espada para atacar vocês?
— Sim senhor.
— Entendo... Vamos voltar.
Ele fez um sinal para que todos o seguissem, e começou a andar na direção do portão. Os outros o seguiram, assim como Draco, que mesmo nervoso havia enganado os bálmares. O capitão, que ia mais à frente puxou de um bolso no torso da armadura um aparelho de comunicação igual ao que Draco vira nas mãos do capitão que enfrentara no solo. Ele se concentrou no que o bálmare ia fazer, pronto para largar o fuzil e levar a mão à espada em caso de emergência, mas sem necessidade, já que o inimigo apenas levou o aparelho para perto do elmo e começou a falar.
— Temos dois soldados e um assuriano invasor mortos no hangar 3. Enviem uma equipe de limpeza, e comuniquem o desaparecimento de toda a equipe da nave de abordagem 7, acredito que todos tenham sido mortos pelo assuriano invasor quando ainda estavam em terra.
Uma voz de homem saiu do comunicador.
— Entendido, vamos enviar uma.
— Enviem também uma equipe de manutenção, a nave de abordagem 7 está com a porta destruída.
— Certo.
O capitão tocou na pequena tela do aparelho e ela apagou. O grupo passou pelo portão, que lentamente se fechou atrás deles. Agora Draco estava completamente sozinho no meio dos bálmares, mas pelo menos não corria riscos, por enquanto. O capitão parou quando o comunicador emitiu um som e sua tela acendeu. Ele leu o que estava escrito, e virou para trás, olhando diretamente para o assuriano.

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