sábado, 12 de março de 2011

Gaia - Capítulo 9

Capítulo 9

Os soldados torturavam o caseiro quando um estrondo fez todos se espantarem. Draco não ficou assustado, pelo contrário, viu nisso uma oportunidade de agir, e assim fez. Antes de tomar uma atitude ele deu uma pancadinha em Danaor, para que ele prestasse atenção, e nem bem Danaor havia virado o rosto, os olhos de Draco adquiriram o brilho vermelho, e enfiando os dedos na madeira das bordas da mesa como alguém enfiando os dedos em sorvete, se preparou para joga-la. Danaor saiu do caminho, saltando para trás. Draco então arrastou a mesa para trás, arqueou as pernas formando uma base sólida para o arremesso, e girou o tronco junto com os braços, usando toda a força que tinha. Parecia que tudo ia dar certo, mas uma pontada penetrou seu corpo. Draco se lembrou dos ferimentos que sofrera na primeira luta com os bálmares. Danaor havia curado o que era mais grave, mas havia avisado que o corpo dele não estava totalmente recuperado, e fazer o máximo de esforço arremessando a mesa teve seu preço. Draco fraquejou no último momento por causa da dor, diminuindo a sua força. A mesa voou rápida e eficaz, mas muito menos do que o jovem desejava. Certeira, acertou dois dos quatro soldados que estavam de pé nos escombros, os rebatendo alguns metros para trás. Enquanto os bálmares ainda não haviam entendido o que estava acontecendo, Draco desembainhou a espada e a jogou contra o comunicador que estava nas mãos do capitão. Ela transpassou o aparelho de metal, quebrando-o e penetrou de leve no tronco do bálmare, que mesmo protegido por sua armadura ainda se feriu, e soltou um urro de dor.

Os dois outros soldados se viraram para Draco. Enquanto apontavam suas armas um vulto azul passou correndo e parou na frente de um deles. Era Danaor, que desferiu um soco na barriga de um. Seus braceletes brilhavam, o soco esmagou a armadura plástica e atingiu a barriga. O outro soldado disparou contra Danaor, que teria sido atingido na cabeça se não tivesse usado o bracelete da mão livre para se proteger.
- Mudem a configuração das armas para o modo rajada!
O capitão bálmare gritou, mesmo ferido ele tinha forças para ordenar. O soldado ainda de pé apertou um botão na arma, mas antes de reagir foi atingido por um soco de Danaor na cabeça, que estraçalhou seu elmo e esmagou seu crânio.

A atenção de Draco agora se virou para o capitão. Ele tentava tirar uma pistola de um coldre na lateral da coxa, mas sua mão tremia e ele não conseguia desabotoar uma pequena tira que impedia que a arma saísse por acidente de lá. A outra mão estava ocupada, segurando a lâmina da espada para evitar piorar o ferimento - se ele a retirasse o sangramento seria pior.

Draco correu até ele. Não era bom como Danaor em usar magia para golpes precisos, muito menos desarmados, mas podia puxar a espada e cortar a cabeça do inimigo. De relance, viu os dois inimigos derrubados pela mesa voadora começarem a se levantar. O entulho no chão dificultava a corrida, mas por algum motivo a cozinha tinha pouquíssimos escombros, o que deixava Draco intrigado, já que nela não havia nenhuma magia de proteção. Mas isso não era hora para se pensar nessas coisas, e rápido ele chegou no capitão. O bálmare, que era o único do exército que Draco vira sem elmo, levantou o olhar do coldre para o rosto do inimigo na frente dele. Sem querer ele deixou escapar uma careta de desespero. Draco meteu a mão no cabo da espada e a puxou de volta. O capitão urrou de dor mais uma vez e o sangue que veio junto com a lâmina sujou o chão. Sem piedade Draco brandiu a espada na horizontal, separando o corpo e a cabeça do capitão, que caíram um ao lado do outro. Vários barulhos de tiro seguidos chamaram a atenção e levaram Draco a olhar para Danaor. O amigo havia estraçalhado a cabeça de um dos soldados que se levantavam, mas o outro mantinha o gatilho do fuzil pressionado, disparando sem parar. A maioria dos tiros atingia a armadura, que foi perdendo a cor azul e escurecendo. Danaor tentava evitar o ataque correndo, mas suas pernas e um braço estavam feridos.
“Merda, os tiros estão consumindo toda a energia do encantamento de proteção da armadura de Danaor, se continuar assim em poucos segundos ela vai acabar!”
Draco correu segurando sua espada para ajudar o amigo. “Vou arremessá-la!” ele pensou. Girou o tronco e arremessou a espada, que atravessou o pescoço do soldado. Danaor, ferido, parou de correr e caiu de joelhos no chão, enquanto levava a mão ao braço ferido e fazia cara feia por causa dos ferimentos. Draco correu a seu encontro, passando antes pelo soldado que matara e pegando de volta a espada.
- Danaor, você está bem?! - dissse Draco quando já estava próximo do amigo.
- Mais ou menos. Eu vou sobreviver, mas acho que não posso mais lutar por hoje...
- Você tem alguma esfera de cura sobrando aí? Se tiver eu mesmo curo esses ferimentos.
- Ah, não tenho, sinto muito jovem mestre. Eu usei todas em você, e parece que agora não vou poder mais ajudar.
- Não precisa se preocupar, cuide de si mesmo, eu dou um jeito de trazer todos de volta.
- Obrigado.
Draco se virou a andou pelo meio do entulho até onde o caseiro estava caído. A lua deixava sua luz cair sobre o corpo inerte dele. Draco chegou mais perto e colocou a mão no pescoço dele, tentando sentir sua pulsação. Não sentiu nada. Os tiros haviam sido demais, e ele perdera muito sangue. Talvez o ferimento que o caseiro tinha na cabeça já fosse suficiente para matá-lo, mas ainda havia a possibilidade de que se tivessem agido mais cedo, o caseiro sobrevivesse.

Hesitação só iria leva a outra tragédia, e isso Draco não iria permitir. Decidido, o jovem embainhou a espada que recebera de Alexander e começou a correr para o ponto mais alto nos entulhos próximos. Do alto, pôde ver algo cinzento e grande parado na parte de trás do terreno da mansão, onde antes havia apenas o campo, mas agora além do objeto cinza, muito entulho, espalhado pelos bombardeios jazia sobre a grama.
“Droga. Eu devo estar ficandou louco para fazer uma coisa dessas. Vou invadir uma nave bálmare cheia de homens doidos pra me matar, sem uma armadura, e ainda ferido.”
Um estrondo como o que lhe dera a oportunidade de atacar encheu o ar de novo. Ao olhar para cima, todos viram que um pedaço da nave bálmare pegava fogo, e um outro local explodira, pedaços incandescentes da fuzelagem estavam caindo no céu escuro, e chamas saíam do buraco resultante da explosão.
Foi então que despontou dos céus algo que em tempos normais traria alívio para Draco, mas que nesse momento só geraria desespero para ele.
Um navio descia pelo céu. A névoa cinzenta se abria mais a medida que o casco de madeira descia das alturas, passando pela barreira de nuvens. Olhando do chão, o navio não passava de um ponto no céu, mas a luz azulada que o envolvia entregava sua verdadeira natureza a qualquer um que conhecesse o exército assuriano: era um navio de batalha, e Draco sabia que esse navio era responsável pela defesa daquela região.
- Incompetentes! - vociferou Draco - Quando os bálmares aparecem onde estão vocês para combatê-los? E agora que eles estão com inocentes no poder deles, vocês aparecem para atacar? Isso foi só para complicar mais a minha situação, tenho certeza!
- Jovem mestre! - gritou Danaor, usando o pouco de força que tinha - Se você ficar parado aí em cima dos entulhos não vai adiantar nada. Vou tentar encontrar alguma esfera de cristal nas ruínas do escritório para me comunicar com o navio de batalha informá-lo da situação, por favor seja rápido e vá para a nave bálmare, senão como pretende manter a palavra e trazer Mímin de volta?
- Tsc, tudo bem.
Draco desceu correndo pelo entulho e passou pelo portal destruído da cozinha, onde antes havia a porta de acesso para a parte de trás do terreno.
Um pensamento invadiu a cabeça do jovem. O primeiro estrondo que ele ouvira, e que fornecera a chance para atacar os bálmares que estava na cozinha havia sido um disparo do navio de guerra. O navio devia estar usando o canhão principal com toda a força o que exigiria um certo tempo para recarga, por isso o espaçamento de alguns minutos entre cada tiro. Eles pretendiam derrubar a nave bálmare a todo custo.
Chegando mais próximo do objeto cinza na parte de trás, Draco reconheceu a nave bálmare. Algumas já haviam sido capturadas no passado, e se sabia que para controlá-las bastava se apertar alguns botões. “Pelo menos era isso que Alexander tinha dito”, pensou, já que ele mesmo nunca nem chegara perto de uma. Ela era uma espécie de veículo com feições retangulares, com vidro enegrecido na parte da frente, e apoiado no chão por três pernas com esquis na ponta. Draco correu até a nave e começou a procurar por uma entrada na parte da frente e nas laterais, dando cutucadas e puxando qualquer coisa que se parecesse com uma porta. Ele deu uma pancada forte na lataria, irritado por não encontrar nada.
- Droga! Como eu faço para entrar nessa merda...
Correu dando a volta na nave, parando na parte de trás. Uma espécie de porta metálica lacrava a entrada. Um pequeno monitor que ficava na altura do rosto exibia palavras amarelas num fundo azul em caracteres desconhecido. Ele agarrou a borda da porta e tentou abri-la à força, mas sem danificá-la. Em vão.
“Pelo jeito vou ter que estraçalhar isso... Tudo bem.”
Os olhos do jovem adquiriram o já conhecido brilho vermelho. Ele desembainhou a espada - que tinha a lâmina ainda suja de sangue da última luta - jogou a bainha para o lado, para que não atrapalhasse e saltou. Um pouco mais alto que a porta, Draco invocou mentalmente sua magia. Uma energia percorria seus braços, e a força de vontade para destruir a porta serviu de combustível para ela.
- Leikkaus!
A energia passou para a lâmina da espada, e usando toda a sua força para realizar um corte na diagonal, destroçou o metal , causando um corte de mais de dez centímetros de largura na porta. Ele executou esse processo uma segunda vez, cortando na outra diagonal, deixando um fenda em forma de X. Outras três vezes mais Draco usou essa magia, fazendo cortes na vertical, depois na horizontal, separando o metal, que sem nenhum contato com o resto da nave, caía no chão. Ele tinha conseguido o mais difícil, entrar na nave. As palavras de Alexander invadiram sua mente mais uma vez:
- Basta apertas alguns botões!
“Não deve ser tão difícil.”

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