sábado, 12 de março de 2011

Gaia - Capítulo 7

Capítulo 7

- Draco, Draco!
Uma mulher de vestido preto e maquiagem “dark” muito carregada chamava por Draco. Seu rosto era harmonioso e chamava atenção. Ele tentou erguer uma das mãos e tocar o rosto da moça, mas alguma coisa o impediu, e o barulho de ferro tocando um no outro chegou a seus ouvidos. Olhou para baixo, e viu que suas mãos e pés estavam acorrentados, e essas correntes continuavam para debaixo do solo, onde ele não podia ver. Novamente seu olhar se voltou para a mulher. Ela continuava o encarando, então virou a cabeça um pouco para o lado, como se não entendesse algo.
- Você não vem?

Draco tentou responder, mas a voz não saía. Desesperado, tentou gritar, mas por mais que se esgoelasse, nada saía. Ele começou a se debater, puxando as correntes tentando se libertar, enquanto continuava, em vão, a tentar gritar.
- Tudo bem, então, até mais. - disse a mulher com cara de choro.
Lentamente ela foi se afastando sem dar as costas. Ela parecia flutuar acima de um chão de areia, e seu movimento era em ziguezague. Draco sentia uma vontade extrema de ir com ela, mas não conseguia. As correntes não permitiam. A vontade que ele sentia não era porque a mulher era bonita ou chamava atenção, apenas sentia que se não saísse dali imediatamente, algo muito ruim ia acontecer.
O chão começou a abrir debaixo de seus pés. A areia começou a correr para dentro da fenda, que lentamente ia aumentando. As correntes começaram a puxá-lo para o fundo, e um calor começou a tocá-lo nos pés. Fogo. O chão queimava, e uma voz o chamou de dentro da terra.
- Hahahaha! Você é meu! Venha, venha!
A voz era demoníaca e maligna. Cada vez mais as correntes puxavam Draco para baixo. Quanto mais ele tentava se livrar do aperto delas, mais o arrastavam para baixo.
Então uma força o puxou para cima. Seus braços e pernas pareciam que iam ser arrancados pela oposição das duas forças. Draco urrava de dor, mas nenhuma voz saía de sua boca.
- AAAAHGh!
- Shhh, jovem mestre, não grite, senão vai chamar a atenção dos bálmares!
- O que?
Draco olhou em volta. Estava escuro, a grande nave bálmare se afastava, e somente a lua prateada iluminava o local. Enxergou ao longe os corpos dos quatro bálmares que enfrentara. Ele estava em um canto do salão de treinamento, escondido atrás de alguns escombros, sentado, encostado na parede. Um homem de cabelos castanho-escuros presos em uma trança que ia até a cintura e vestindo uma amadura azul estava de joelhos.
- Danaor! - disse Draco, surpreso - Pensei que você estivesse na capital!
- Eu estava, mas desde ontem fiquei tentando contatar o general Alexander, e como não consegui, passei o dia viajando pra chegar aqui.
- Ah... Ele tentou entrar em contato com o rei hoje, mas também não conseguiu. Parece que meu pai estava adivinhando qua algo ruim ia acontecer, mas infelizmente ele não está aqui. Partiu mais cedo para a capital, talvez ele tenha conseguido ouvir o estrago que os bálmares causaram e esteja voltando...
Durante alguns segundos os dois ficaram em silêncio.
Diferente de Alexander, a armadura de Danaor não era completa. Um colete azul de alças protegia seu tronco, braceletes marrons protegiam metade do seu antebraço, um saiote dividido em quatro partes fornecia alguma segurança para a pelve, e grevas azuis com linhas douradas protegiam as canelas. Por baixo da armadura ele usava roupas leves pretas, e nos pés, botas.
- Por quanto tempo eu dormi? - disse Draco, quebrando o silêncio.
- Só alguns minutos, eu trouxe comigo algumas esferas de cura, para alguma emergência - Danaor deu uns tapinhas em uma bolsa que trazia presa à lateral da cintura - então as usei para parar alguns sangramentos. Mas você ainda não está cem por cento, só um curandeiro para curar todos os seus ferimentos, tome cuidado.
- Tudo bem.
Draco compreendeu que Danaor o havia arrastado do lugar onde caiu depois do combate com os bálmares até onde estava sentado agora.
- Danaor, você sabe o que aconteceu a todos na mansão?
- Quando eu cheguei, na entrada da mansão vi bálmares carregando uma mulher de vestido vermelho para dentro de uma nave pequena, ela estava desacordada e seu rosto sangrava. Somente um pedaço da mansão havia sido destruído, provavelmente usaram o detector de calor na nave deles para saber onde ela estava, e atacaram somente lá. Antes que eu pudesse agir, a porta da nave pequena se fechou e a nave maior começou a bombardear. - ele apontou para cima, o barulho do motor tinha diminuído, parecia que a nave havia se afastado bastante - Eu fui arremessado para longe, e quando acordei, senti que você estava usando magia por aqui. Mas você foi muito corajoso de lutar sem armadura.
- Heh... de que adiantaria essa coragem se eu tivesse morrido? Foi uma idiotice, isso sim.
- É, acho que também podemos chamar dessa forma.
Com um certo esforço, e usando a parede como apoio, Draco se pôs de pé. Danaor fez o mesmo, mas com muito mais facilidade.
- Danaor, você está ferido em algum lugar?
- Não. O tiro da nave atingiu o solo perto de mim, foi a explosão que me arremessou.
- Menos mal, vamos lá.
Já um pouco recuperado, Draco e Danaor começaram a se esgueirar por entre os escombros, indo para onde ficava a cozinha.

No caminho, onde antes ficava um dos corredores, um grupo de quatro soldados bálmares caminhava, procurando por alguma coisa.
- Parece que as patrulhas dessa nave sempre saem em grupo com quatro pessoas - começou Draco baixinho, depois que ele e Danaor haviam se escondido, e observavam os inimigos através de uma fresta nos escombros. - o grupo que eu enfrentei antes também tinham quatro pessoas.
- Como você sugere que ataquemos?
- Não podemos dar chance para eles reagirem. Vamos atacar de vez, e acabar com no máximo dois golpes.
- Certo.
Lentamente a patrulha se aproximava. Sempre olhando em volta eles andavam pelo corredor sem teto e cheio de pedregulhos, até que em um momento o corredor se estreitou por causa de um pedaço grande de escombros, e tiveram que fazer fila para passar por ali.
Era atrás desses escombros que Draco e Danaor se esconderam.
Assim que o primeiro inimigo despontou de trás dos escombros, os olhos de Draco ficaram vermelhos e ele correu, passando direto pelos dois primeiros da fila, enfiando a espada no pescoço do terceiro, e o arrastando com tremenda força que foi possível atingir o pescoço do quarto com o mesmo golpe. Danaor ficou para trás. Seus braceletes adquiriram um brilho azulado, e enquanto o primeiro bálmare da fila se virava para Draco, o acertou com um soco nas costelas. O golpe fez a armadura plástica se partir e atingiu as costelas. A onda de impacto continuou pelo corpo, e mesmo o punho tendo parado ao atingir a costela, do outro lado o corpo estourou, e uma mistura de visceras, ossos e resina plástica se espalhou pelo lugar. O segundo da fila foi ainda mais fácil de matar, ele não notou a presença de Danaor, e Draco arrastava correndo pelo corredor os corpos dos dois primeiros mortos, presos na espada pela lâmina, dificultando a mira. Danaor simplesmente se aproximou por trás e girou a cabeça do bálmare, quebrando seu pescoço.

Depois de tudo acabado, Draco puxou a espada dos corpos, permitindo que caíssem. Com um movimento vigoroso ele jogou a maioria do sangue da lâmina no chão, deixando uma linha vermelha no granito-pena que ainda restava intacto na mansão.
- Nossa, sua magia de intensificação física melhorou de novo. - disse Danaor enquanto se aproximava.
- Sim, andei treinando todos os dias.
- Não, ela melhorou mesmo! Ser capaz de arrastar esses dois bálmares usando uma espada no pescoço deles é um feito e tanto. Que elemento você está usando como intermediário?
- Uma pedra de Thor.
- Ah, imaginei. Uma pedra de Thor é um dos melhores intermediários para se invocar magias de aumento da capacidade física, já que essas magias “Podem te deixar forte como um deus”. Nome peculiar pra se dar a um elemento mágico.
- Hehe, é sim.

Os dois continuaram, indo em direção à cozinha destruída.

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