terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Gaia - Capítulo 1: Parte 2

Capítulo 1 - parte 2
Uma das empregadas suspirava enquanto colocava a água para ferver. Ela abriu uma das torneiras e colocou uma espécie de jarra feita de um material vermelho translúcido debaixo da água corrente. Assim que tocou o fundo da jarra, o vapor começou a subir, e a água a borbulhar. Pouco a pouco a jarra foi ficando cheia d'água enquanto a empregada a segurava debaixo da torneira...

— Ai! - gritou ela, que distraída não percebeu a jarra com água fervente ficar cheia e derramar o conteúdo pelas bordas, machucando uma de suas mãos. Numa reação instintiva, ela soltou a jarra e levou a mão machucada para perto do peito, deixando a água escorrer por uma das pias da mansão cinzenta. Uma outra empregada, que nesse momento lavava a louça, percebeu o que estava acontecendo e logo foi ao socorro da outra.



— Mímin! O que aconteceu? Por que você deixou a jarra derramar? Em que você estava pensando, hein? Já é a quarta vez essa semana que você se machuca porque se distraiu no serviço...
— Me desculpe, Berta... Eu prometo que vou prestar mais atenção no que estou fazendo da próxima vez. - respondeu Mímin com a cabeça baixa, ainda envergonhada pelo acontecido.

Berta era uma mulher de meia idade, com pouco mais de 45 anos. No mês anterior, ela havia feito aniversário, e os outros serviçais haviam preparado uma festa para ela - algo simples, apenas uma pequena torta confeitada pela cozinheira, que era humana, e algumas jarras de suco - O que eles não contavam, foi que o próprio Alexander Von Bernstein apareceria para a comemoração - Na verdade ele apenas estava indo na cozinha pegar um copo de água quando se deparou com todos, e para não fazer desfeita, aproveitou junto com eles.

Os cabelos castanho escuros dela estavam presos debaixo de uma toca de pano branca, para que não caíssem em nada. Algumas gordurinhas já apareciam por debaixo das roupas e delineavam alguns pneus, seu rosto estava suado, mas feliz. Ela realmente gostava de trabalhar ali.

Já Mímin era uma jovem de pouco mais de 17 anos. Ela era baixa, batia nos ombros de Berta, tinha o corpo magro, porém atraente, e seu rosto era delicado, combinado com cabelos negros, presos por um coque atrás da cabeça e uma tiara branca enfeitada com renda.

Berta a puxou pelo braço para uma sala ao lado da cozinha. Lá ela abriu um pequeno armário de madeira encostado na parede e começou a remexer no que tinha lá dentro. Durante pouco mais de um minuto ela fez isso, procurando por algo, até que soltou um gritinho de satisfação ao encontrar.

— Ah! Achei! Venha cá, Mímin - Berta fez um gesto com a mão para que a outra se aproximasse - Me deixe passar uma pomada nessa queimadura e depois enfaixá-la. Assim que puder ir na cidade, vá ao curandeiro mais próximo para que ele use o poder da Mãe Gaia para curar sua mão de uma vez.
Mímin corou ao chegar perto de Berta. Tremendo, ela estendeu a mão. Berta delicadamente começou a passar uma pomada verde que tirava de um tubo de madeira que era um pouco mais grosso que um polegar, e um pouco mais baixo. A cada toque de Berta, Mímin recolhia um pouco a mão, para logo depois ser puxada novamente para perto da empregada mais velha. Berta não sabia por que Mímin era tão tímida. Nenhum dos serviçais da casa conheciam o passado de Mímin, ou porque ela tinha ido trabalhar na mansão dos Bernstein, já que Alexander havia a trazido há pouco mais de um ano. Desde então ela trabalhara na casa, mas sempre tímida e evitando se aproximar demais das outras pessoas.

Com a mão enfaixada, Mímin voltou para a cozinha e começou a encher a jarra vermelha com água. Assim como antes, a água tocava o fundo da jarra, começava a borbulhar e o vapor a subir. Ela pegou algumas folhas de um dos vários armários da cozinha e preparou uma infusão. Ela pareceu ficar feliz depois de terminar tudo, pois um sorriso muito pequeno iluminou seu rosto enquanto ela colocava o chá, agora em um bule de porcelana branca, em cima de uma bandeja, pegava algumas xícaras e as arrumava com carinho perto do bule. Pegou a bandeja pelas bordas e saiu da cozinha com ela, andando rápido, mas com cuidado, para o salão de treinamento da mansão.



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