sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Gaia - Capítulo 2

Capítulo 2

Alexander se levantou e encostou a ponta de Durandall, sua espada, no chão de granito-pena enquanto segurava o cabo.

— Vamos lá, se não começarmos logo, não vamos acabar cedo. - disse ele enquanto Draco caminhava em sua direção.



Sem nenhum aviso, o passo de Draco mudou de uma caminhada calma para uma corrida frenética. Correu na direção de Alexander, e quando chegou perto o suficiente, puxou a espada da bainha conectando com um corte horizontal, que não acertou nada. Alexander saltara por cima do filho, girando no ar, e agora suas posições estavam trocadas. Draco era quem estava mais próximo do centro do salão, e Alexander da porta. Draco parou, ficou fitando o pai com a espada abaixada, ele não queria denunciar qual seria seu próximo ataque.

"Meu pai é um homem muito forte, é perigoso tentar enfrentá-lo de frente... Eu confio na minha habilidade com a espada, ele não conseguiria me tocar sem antes ser parado pela minha lâmina. Mas o problema é Durandall, ela é uma espada pesada, destruidora, que tira o máximo proveito da força do meu pai, e um golpe usando ela pode ser capaz de destruir minha espada e me acertar com quase força total. O melhor a fazer é tentar um ataque rápido e me afastar."

Durandall media pouco mais de um metro e vinte, possuía um palmo de largura, e dois dedos de espessura. A lâmina no meio era negra, com várias runas escritas em sua extensão, e no fio era branca. A empunhadura era em forma de cruz, composta pela guarda, com um pouco mais de vinte centímetros, negra como a lâmina, e do cabo, que tinha também vinte centímetros e era envolto por tiras de couro marrons, para diminuir os calos que brandir aquela espada causavam. Na ponta do cabo havia um pomo negro. Draco nunca entendeu porque aquilo estava ali. Normalmente pomos eram usados para ajustar o equilíbrio de uma espada, para que se movimentasse como uma extensão do braço do espadachim. Não haviam motivos para ter um pomo em Durandall, ela era uma espada pesada, grande, usada para golpes fortes, destruidores, que acabassem de vez com o adversário, um pomo não iria equilibrar nada.

Draco avançou de novo. Dessa vez tentou cortar Alexander na diagonal, de cima para baixo. O pai defendeu usando a largura de Durandall, e contra-atacou com um chute, que acertou algumas costelas de Draco. Uma pontada de dor tomou conta dele, que recuou temendo engajar uma luta a curta distância. Durandall era pesada, mas Alexander era forte e ágil.

— O que foi, não vai mais me atacar, Draco? - disse Alexander em tom de escárnio, enquanto abria um sorriso maldoso - Sua estratégia é uma merda. Espera me vencer mantendo a distância? Assim como você pode se afastar, eu posso me aproximar. Como você se sairia se eu atacasse?

Draco correu novamente e atacou com a espada. Alexander a defendeu como antes, mas quando foi revidar com um chute, Draco golpeou sua perna usando a bainha da espada, que carregava na outra mão. A sensação da madeira acertando a carne fez Draco sorrir, finalmente havia acertado o pai pela primeira vez no dia. Deu alguns saltos para trás de novo, mantendo a estratégia.

— Improviso, pai. - respondeu Draco - Durandall é uma arma destruidora, mas nas mãos de alguém com sua força e agilidade, ela também se torna um escudo. Mas tem uma fraqueza. Ela não permite que você carrege uma outra arma nas mãos ou um escudo, então sempre que se defender e for contra-atacar, vai ter que usar as pernas. Nesse caso você só tem duas opções, usar a perna direita ou a esquerda, e prever qual delas é fácil. Você é destro, sua perna mais rápida e destruidora é a direita, então basta eu sempre ficar de olho nela, se atacar usando ela, me defendo. Se atacar com a esquerda, que é mais lenta, consigo perceber e me proteger antes dela me acertar.

— Hum... É, você está melhorando. Mas isso é o mínimo que se pode esperar, afinal você treina desde criança. Venha, ataque novamente.

Draco obdeceu e correu contra Alexander. Atacou com a espada, que foi repelida do mesmo jeito que das outras vezes. Mas dessa vez Alexander não tentou contra-atacar. Draco recuou, mas quando havia dado poucos passos para longe, Alexander avançou. Avançou a uma velocidade tão impressionante que sequer deu tempo de Draco reagir direito. O pai brandiu Durandall de cima para baixo, por pouco não acertou Draco, que girou o corpo, evitando o golpe. A lâmina acertou o chão e fez um barulho metálico. Faíscas azuis voaram em todas as direções, e no local onde a lâmina acertara o chão agora havia uma fenda.

— Não vou deixar você usar essa mesma estratégia dessa vez!

Gritou Alexander enquanto erguia novamente a espada e corria atrás de Draco. Em três passos conseguiu alancançar o filho, quase encostando nele. Atacou mais uma vez de cima para baixo. Draco defendeu usando sua espada. O golpe foi tão forte que ele teve que flexionar os joelhos e abaixar um pouco a lâmina para absorver o impacto. Aproveitando que estava com os joelhos flexionados, Draco tentou fazer um rolamento para trás, mas usando seu jogo de pés, Alexander passou para trás dele e o golpeou, acertando seu ombro direito. Um filete de sangue começou a escorrer pelo braço e pingar no chão.

— Não precisa se preocupar. É apenas um corte superficial, segurei minha força quando percebi que você não conseguiria se esquivar. É muito bom que você possua o nível de habilide que tem agora. Está bem treinado, e seu aniversário de 20 anos está chegando. Você vai atingir a maioridade e participar na guerra, assim como os outros nobres. Se não tiver força, vai terminar morrendo em uma vala qualquer como muitos outros.

— Ai... - reclamava Draco enquanto se punha de pé - Superficial... o corte pode ter sido superficial, mas a pancada não foi. Olha só - ele afastou um pouco a parte da camisa rasgada no ombro, expondo um corte não muito fundo, mas a região em volta dele estava roxa. - Está vendo? Ficou roxo.

— Se isso daqui fosse uma batalha de verdade, você estaria morto, não ia nem ter a chance de reclamar do golpe. Se acha que é tão ruim assim levar essa pancada, então treine e fique mais forte, assim não vou conseguir te acertar.

Então a luta entre os dois recomeçou.

Depois de se afastar, Draco correu outra vez e atacou com a espada. Alexander não defendeu, pelo contrário, atacou. Brandiu Durandall contra a lâmina de Draco. O choque entre as duas fez faícas azuis voarem de novo, Mas a superioridade da espada contou muito nessa hora. A espada de Draco se partiu em duas e Durandall passou com força total por ela. Dessa vez Alexander consegui se conter e parou a espada antes de atingir o tronco do filho.

— Draco, como você pôde ver, Durandall é pesada e serve como escudo, mas ela me permite sim contra-atacar de forma eficiente. O peso e poder dela podem ser usado para bater de frente contra o ataque de uma outra espada, destruindo-a.

— Entendo... - respondeu Draco.

Ele parecia um pouco decepcionado pela luta ter acabado desse jeito. Andou até o pedaço partido da lâmina que voara e o apanhou. Sua mente se lembrou da imagem das faíscas voando.

— Pai - Draco parecia ter recuperado o ânimo - uma coisa que eu nunca entendi, por que sempre que Durandall encontra alguma resistência, ela lança faíscas azuis no ar, e não laranjas, como a maioria das espadas?

— Não tem nenhum motivo em especial, é apenas por causa do material de que ela é forjada.
Draco estreitou os olhos e fez cara que não acreditava. Ao falar, Alexander havia passado a língua no lábio inferior. Depois de tantos anos juntos, Draco sabia que ele fazia isso quando mentia. Draco teria insistido se nesse momento alguém não tivesse batido à porta. Era regra da casa que qualquer um que quisesse entrar no salão de treinamento deveria bater antes, e a punição para os que desobedeciam era a morte. Na verdade essa era uma regra de todas as casas nobres, porque os estilos de batalha só eram passados para um sucessor, e qualquer um poderia tentar roubar os conhecimentos.

Alexander indicou com a cabeça para que Draco abrisse a porta. Sem reclamar, ele caminhou até ela e a abriu. Mímin estava de pé no corredor, carregando uma bandeja com um bule de porcelana branca e algumas xícaras. O rosto dela pareceu corar, mas Draco ficou em dúvida se ela havia mesmo ficado com as bochechas rosas, ou se elas sempre eram rosas, já que sempre que ele a vira, as bochechas dela estavam coradas. Ele ergueu a sobrancelha na dúvida, e ficou olhando para ela com um olhar indagativo.

— Mímin, o que você quer? - disse ele, frio.

— Eu vim trazer um pouco de chá para vocês... - respondeu ela enquanto desviava o olhar, virando os olhos para as peças de chá.

— Ah, tudo bem, pode me entregar.

Draco passou a mão por debaixo da bandeja, e quando foi segurar nos puxadores, suas mãos tocaram as de Mímin. Nesse momento ela tremeu e pareceu ficar mais vermelha ainda. Draco não entendeu o que havia acontecido, e preocupado, acabou piorando ainda mais a situação.

— Ei, Mímin, o que aconteceu? Você está bem?

Ele foi se aproximando, e a medida que a distância diminuía, ela parecia ficar mais vermelha e agora estava suando.

— Não é nada! E-eu já vou indo, vou voltar para a cozinha, até mais, senhor.

Ela saiu a passos rápidos andando pelo corredor, enquanto torcia seu avental de forma frenética sem nenhum motivo aparente.

"Eu hein... o que deu nessa aí?"

A voz de Alexander saiu do fundo do salão, ecoando pelo corredor:
— Você sabe que Mímin tem dificuldades em interagir com outras pessoas. Ela já sofreu muito quando era mais nova, tome mais cuidado se não quiser que ela reaja assim de novo.

— Ah, tudo bem. Eu não ligo - disse Draco enquanto fechava a porta e trazia a bandeja para perto do Pai.

Os dois deram uma pausa para uma xícara de chá, e depois passaram a treinar sua mente e mágica até a noite.

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